terça-feira, 31 de maio de 2016

Aceita-o. Ajuda-o.





 
Conheci há dias a Céline Gaille, fotógrafa francesa freelancer que vive em Lisboa desde 2014 e se apaixonou pela Feira da Ladra. Como muitos, vasculha fotografias antigas na Feira, imagens de gente vulgar. O que não é nada vulgar foi a ideia que teve. Juntou fotografias desirmanadas, seleccionou-as, e contou uma história imaginária que cruza o Portugal de antes e depois do 25 de Abril. Sem ódios nem rancores, sem ressentimentos ou paixões incendiadas. Fê-lo de uma forma twee, suave e delicada.
 







 
           A história começa em 1919 e 1979, tem um enredo meio policiário e somos de tal forma levados pelo encantamento de cartas e episódios que se produz no nosso espírito uma estranha suspension of disbelief, algo que geralmente só ocorre nos filmes. Na verdade, este álbum é um filme, com as fotografias colocadas em rigorosa sequência temporal. E, como espectadores de uma fita, julgamos que as pessoas que vemos são as mesmas, a crescer adultas e a envelhecer aos poucos. Não, não são; são fotografias de várias proveniências, de gente muito diversa, seleccionada pelo olho clínico da Céline que nelas encontrou afinidades capaz de converter tudo isto em algo verossímil. É essa a trouvaille deste projecto, aquilo que impede que o classifiquemos como um (mais um) divertissement pós-colonial. Este projecto irá ser mostrado nos Encontros da Imagem, o festival internacional de Fotografia de Braga. Bem o merece. E merece mais: merece que contribuamos para o livro, que está na forja na prestigiada The Eyes Publishing, seja publicado. Já um dia apelei aqui ao crowdfunding a favor de um trabalho do João Pina. Não sei se ajudou, mas ajudou-me a sentir melhor. Não conheço a Céline, estive com ela uma vez, quando teve a gentileza de me mostrar este seu álbum de encantamento. Não sou de «amigos». E cada dia que passa odeio mais o sectarismo das claques e a cegueira das tribos. Aceita-o, assim se chama o livro da Céline Gaille. Aceitem-no, recebam-no assim como ele é: lindo. E, se acharem bem, façam com que exista de verdade e veja a luz do dia. Quanto mais não seja, em homenagem à delicadeza com que uma francesa tratou dos nossos mortos, juntando-os todos numa história de acasos e desencontros, enquadrada por um texto da Filipa Lowndes Vicente. Se quiserem ajudar, então é aqui que se ajuda:

 https://www.kisskissbankbank.com/en/projects/accepte-le


 
 
 
 
 

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